Serviço da Prefeitura de Nova Iguaçu é uma alternativa ao acolhimento institucional para crianças e adolescentes
“Eu vivi em um abrigo e conheço esta realidade. É totalmente diferente de crescer em um lar de verdade”. A afirmação é de Heloísa Andrade, de 26 anos, moradora do bairro Ipiranga, em Nova Iguaçu. A experiência de vida em uma instituição para crianças e adolescentes foi o que a motivou a ingressar no Serviço Família Acolhedora, da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS). Ele consiste no acolhimento de meninas e meninos afastados judicialmente de seus lares de origem, sendo uma alternativa ao abrigo.
Heloísa passou pelo acolhimento institucional em duas oportunidades, sendo a primeira com poucos meses de vida e a segunda aos 8 anos de idade. Nas duas ocasiões, ela foi levada pela própria mãe, que, na primeira, ficou muito doente e não tinha condições de criá-la. Na segunda, precisava trabalhar e não tinha com quem deixar os filhos. Sem opção, ela levou as crianças para um abrigo. Ao todo, Heloisa ficou longe de casa por cerca de quatro anos.
“Minha mãe trabalhava de segunda a segunda e morreríamos de fome se ela tivesse que sair do emprego”, revela Heloísa, esclarecendo que sua ida ao abrigo se deu por motivos diferentes da maior parte dos casos recebidos pelo Serviço Família Acolhedora.
“Eu soube do serviço pelas redes sociais da Prefeitura de Nova Iguaçu e conversei com meu marido. Decidimos nos habilitar para podermos proporcionar a uma criança a oportunidade de continuar crescendo em um lar e não precisar ir para um abrigo, como eu precisei”, conta Heloísa, que é professora da rede municipal de Educação.
Ela é casada há dois anos com o operador Paulo César Alves, de 26 anos. Ele perdeu a mãe ainda criança e foi criado pela irmã mais velha. Ciente da dor de crescer sem uma figura materna, Paulo César abraçou o desejo da esposa, que passou a ser seu também.
“Um lar com amor e afeto é o melhor ambiente para o desenvolvimento de uma criança. Sabemos que não podemos mudar o mundo, mas se pudermos transformar a vida de ao menos uma criança, ensinando o que é respeito e dando bons exemplos, talvez este pouco tempo de acolhimento seja importante para o futuro dela”, opina Paulo César.
Heloisa e Paulo César estão no primeiro acolhimento. Há três meses o casal cria temporariamente um menino de 4 anos. Desde então, a vida mudou radicalmente. Pinturas, desenhos e brincadeiras agora fazem parte da rotina da família. A recompensa, segundo eles, é algo que não há valor monetário capaz de pagar.
“Nada explica o sentimento de ajudar uma criança. Talvez o tempo no acolhimento seja a chance que ela precisa para se tornar um adulto decente, honesto, que saiba lidar com os desafios da vida. Nosso papel na sociedade é parar de olhar somente para nós e estender a mão às pessoas ao redor. É assim que podemos mudar a estrutura da sociedade”, afirma Paulo César.
Como acolher
Lançado pela Prefeitura de Nova Iguaçu em 2018, o Serviço Família Acolhedora (SFA) é uma alternativa para os abrigos. Atualmente, 48 meninos e meninas estão em acolhimento institucional no município e apenas oito estão acolhidos pelo SFA. Por isso, o município segue cadastrando famílias que queiram abrir as portas de seus lares. No momento, oito famílias estão habilitadas.
Para fazer parte do serviço, é preciso morar em Nova Iguaçu há pelo menos dois anos, ter moradia que atenda às necessidades básicas da criança, entre outros requisitos. Também é fundamental que todos os membros da família estejam de acordo com a inserção no serviço e cientes que não se trata de adoção, mas da promoção de um lar temporário para o acolhido. Desta forma, elas serão submetidas a exame psicossocial e irão passar por processo de capacitação para que tenham condições de acolher as crianças afastadas dos lares de origem.
Segundo a coordenadora do ‘Família Acolhedora’, Viviane Cordeiro Marques, a grande vantagem do serviço é poder proporcionar à criança e ao adolescente um lar. “Eles são retirados do lar de origem e ao invés de irem para uma instituição, vão para um lar onde poderão ser tratados de forma individualizada e ter rotinas básicas de uma criança em família”, explica.
Os interessados em se cadastrar podem procurar a sede do serviço, localizada na Rua Dr. Luiz Guimarães, nº 956, no Centro. Também é possível entrar em contato via WhatsApp (99575-1913) ou pelo e-mail familiaacolhedora.ni@gmail.com.
Foto: Renato Fonseca/PMNI