Pesquisas científicas apontam que a partir dos 25-30 anos inicia-se o processo de declínios das capacidades cognitivas, entre elas a memória, principalmente quando relacionada a fatos recentes do cotidiano, como o esquecimento de um nome ou uma simples lista de compras de supermercado. Atenta à expectativa de vida da população, que vem aumentando significativamente nas últimas décadas, a NeuroForma Tecnologias desenvolveu e disponibiliza no Brasil (e países de língua portuguesa) uma plataforma virtual para promover o treinamento cerebral por meio de exercícios cientificamente testados. A empresa é uma das contempladas pelo Startup Rio, programa do Governo do Estado, representado pela Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, voltado para a capacitação de empreendedores digitais.

“Ao realizar uma missão científica na universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, iniciei alguns estudos e pesquisas sobre o uso de exercícios computadorizados, no estilo videogame, para melhorar o funcionamento cerebral. Ao retornar ao Brasil, fundamos a NeuroForma em 2014 e, através do Startup Rio, foi possível adaptar a plataforma online norte-americana para uma versão brasileira. Em paralelo a isso, também começamos os estudos clínicos no âmbito acadêmico, onde convidamos pessoas com esquizofrenia, transtorno bipolar do humor e depressão, bem como indivíduos saudáveis acima dos 60 anos, para participar do projeto”, explicou o fundador da empresa e coordenador do projeto de pesquisa e extensão Academia do Cérebro, o médico psiquiatra, neurocientista e professor da UFRJ, Rogério Panizzutti.

De acordo com o neurocientista, os exercícios são semelhantes aos encontrados nos jogos virtuais e seguem a mesma lógica: o praticante é desafiado e deve identificar sons e imagens, por exemplo. Quanto mais acertos a pessoa tiver, mais rápida e difícil vão ficando as atividades, sempre de acordo com o desempenho pessoal.

“É preciso fazer uma avaliação antes do início e depois do cronograma de exercícios para que possamos documentar as mudanças no cérebro induzidas pelo treino. Temos a parceria com o Instituto de Psiquiatria da UFRJ, com Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e a Casa Gerontológica da Força Aérea Brasileira Brigadeiro Eduardo Gomes. Alguns resultados já estamos observando, como os ganhos de atenção nas pessoas após o treinamento e que este ganho permaneceu após seis meses do final do treino. Isso mostra que os exercícios geraram o que chamamos de plasticidade cerebral, ou seja, o cérebro está sendo modificado de tal forma que o ganho está persistindo ao longo do tempo”, contou Panizzutti.

Atualmente, em torno de 20 participantes estão no estudo clínico que utiliza como ferramenta de teste os exercícios da NeuroForma. Por se tratar de uma pesquisa acadêmica batizada de Academia do Cérebro, o projeto recebe outro incentivo financeiro do Governo do Estado, através da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). Em 2016, a empresa ganhou o segundo lugar do Prêmio Aging 2.0 por seu trabalho para a promoção da saúde mental e qualidade de vida de adultos mais velhos.

Melhora na memória

Após ouvir de gerontologista que apresentava um certo grau de déficit de atenção, dona Elisabeth Armbrust, de 75 anos, começou a procurar uma atividade que pudesse ajudá-la. Ao ler um artigo em um jornal, a aposentada teve conhecimento da pesquisa científica e se inscreveu. Desde julho deste ano, é voluntária no estudo clínico e descreveu de que forma percebeu que era preciso voltar a estimular o cérebro.

“Quando você se aposenta, entra numa fase diferente de atividade, seja ela física ou mental. Você, de repente, fica numa situação muito estática e passiva. Embora isso seja bom para descansar um pouco, ao longo do tempo acho que a gente sente a necessidade de mais atividades que exijam mais processos no seu pensamento e na sua memória. Resolvi que, da mesma forma que faço atividade física, iria fazer um “pilates mental” “ brincou dona Elisabeth.

Segundo ela, a melhoria em sua vida foi nítida: “Em poucos meses, já senti uma grande diferença, pois agora presto mais atenção aos fatos reais. Por exemplo: guardar datas, recados, compromissos e até mesmo a lista de compras. Não levo mais a lista, eu a memorizo. E, se não conseguir comprar tudo, volto novamente, aproveito e faço uma nova caminhada”, divertiu-se a senhora.Para ser um voluntário no projeto científico Academia do Cérebro, é preciso mandar um e-mail para neuroidosos@gmail.com. Os pré-requisitos para a participação são simples: pessoas acima de 60 anos, saudáveis e que sejam alfabetizadas.

O Startup Rio

Com o objetivo de fomentar a cultura de empreendedorismo para transformar o Rio de Janeiro em um polo de referência internacional em tecnologia digital, o Startup Rio acelera, atualmente, 46 empresas que funcionam gratuitamente no espaço de co-working do programa com mais de 1.000m², no Catete, na Zona Sul. No total, 116 startups já foram graduadas, recebendo mais de R$10 milhões em fomento do Governo do Estado.

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