“Carcará, não vai morrer de fome. Carcará, mais coragem do que homem”. É a partir da poesia que retrata a similaridade entre as características da ave de rapina e dos homens, que surge com uma montagem cênica disposta a apresentar de forma lúdica e bem humorada a vida de João do Vale. O artista terá sua trajetória encenada no durante o mês de março nos bairros de Nova Iguaçu, no espetáculo musicado “João do Vale: O Carcará da Baixada”, com texto de Ana Beatriz Gonçalves e Alexandre Gomes, que também realiza a direção. As apresentações são gratuitas. 

A temporada estreou nesta quarta-feira (10/03) na casa onde o artista morou no bairro Rosa dos Ventos, local onde será construído o Centro de Cultura João do Vale. Dando continuidade às apresentações, a Casa do Menor São Miguel Arcanjo, no bairro Miguel Couto, recebe o espetáculo na quarta-feira (17), às 16h. No Centro de Nova Iguaçu, a apresentação acontece na quarta-feira (24), às 16h, na Escola Livre F.A.M.A. Fechando o ciclo, a última apresentação será na Estação Cidadania Serra Do Vulcão – Praça Céu – Jardim Nova Era, na quarta-feira (31), às 16h. 

A obra alerta não só para que a história de um dos maiores cantores e compositores negros brasileiros que teve uma forte relação com a Baixada, não seja esquecida, mas acima de tudo, para provocar uma reflexão a respeito dos preconceitos raciais, da xenofobia e da divisão de classes.

Além de homenagear os nordestinos, que desde 1950 migram para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor na “cidade maravilhosa”, a montagem conta como um artista negro – de linhagem angolana -, no decorrer da sua história marcada pela migração entre o Sudeste e o Nordeste do Brasil, trabalhou como ambulante, ajudante de pedreiro, e garimpeiro para realizar seu principal e único objetivo: viver da sua arte.

“João do Vale nos faz perceber que a presença da arte nas classes menos favorecidas é incontestável há muitos anos. Contar a história deste grande artista aos bairros de Nova Iguaçu é, de certa forma, tornar concreto um dos sonhos de João: levar alegria e entretenimento de qualidade ao povo”, explica Hilda Maretta, atriz do espetáculo.

Com elenco da Escola Fábrica dos Atores, composto por JV Nunes, Gabi Teixeira, Hilda Maretta e Mateus Amorim, o espetáculo conquistou diversos prêmios, incluindo o de melhor iluminação, melhor atriz, melhor cenografia, terceiro melhor espetáculo no 15º Festival Nacional de Teatro de Duque de Caxias, além das indicações para melhor figurino e melhor direção. 

João da rua e da Baixada

Criado na rua da Golada na cidade de Pedreiras, João do Vale, foi retirado da escola para que o “privilégio de um menino branco fosse assegurado”, ainda no terceiro ano do primário, como declarou na série “Nova História da Música Popular Brasileira” da editora Abril. 

Após esse episódio, com 15 anos fugiu de casa para conquistar a Cidade Maravilhosa. Quase um ano depois, se estabeleceu em Salvador, onde fez bicos em circos, construções, transportes públicos e teve seu primeiro contato com a capoeira, o samba e o candomblé. 

Ao deixar a capital baiana e passar por Minas Gerais, seu desejo se realizou e aos 17 ele desembarcou no Rio de Janeiro. Entre os episódios de racismo e violência que sofreu na capital fluminense, o aspirante a cantor e compositor peregrinava até as sedes de duas das maiores rádios da então capital do País, a Nacional e a Tupi. E somente cerca de 3 anos depois que conseguiu sua primeira chance, com o baião Madalena.

No ápice da sua aceitação, suas composições foram ficando cada vez mais conhecidas e em 1965, João do Vale marcou sua carreira lançando o álbum “O Poeta do Povo”, mas assim como tantos outros grandes artistas negros, morreu na miséria e no anonimato, no Conjunto Habitacional Rosa dos Ventos, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. 

A estrela miúda de João do Vale

Resultado da pesquisa realizada em sua pós graduação, a historiadora Marize Conceição de Jesus lançou no ano de 2020 o livro “Rosa dos Ventos, a estrela miúda de João do Vale”, onde narra a construção do Conjunto Habitacional Rosa dos Ventos, bairro nascido à luz da segregação socioeconômica perpetuado pelo modelo de desenvolvimento capitalista brasileiro – período da ditadura civil militar -, e habitado por João do Vale até o dia de sua morte.

A obra, que resgata as memórias do artista em seu habitat e relata sua atual situação após a morte de João, estará presente em todas as apresentações do espetáculo musicado “João do Vale: O Carcará da Baixada”.

Durante as apresentações do espetáculo, a escritora Marize Conceição realizará sessões de autógrafo com venda do livro. 

Os ingressos para o espetáculos serão destinados à formação de plateia para que sejam contemplados moradores e estudantes de cada localidade a fim de que a história de João do Vale seja conhecida pelos moradores da Baixada, quando o número não for completo os demais ingressos estarão disponíveis para retirada com duas horas de antecedência na bilheteria de cada local. 

FICHA TÉCNICA

Organização Dramatúrgica: Alexandre Gomes e Ana Beatriz Gonçalves

Colocação Dramatúrgica: O Grupo

Direção: Alexandre Gomes

Assistente de direção: Alícia Sousa

Cenário: Alessandra Fernandes

Figurino: Alessandra Fernandes

Maquiagem: Alessandra Fernandes

Direção musical: Alícia Sousa

Elenco: JV Nunes, Gabi Teixeira, Hilda Maretta e Mateus Amorim

Design Gráfico: Samuel Santiago

Gerenciador de Mídias: Gabi Teixeira

Fotógrafo: Danilo Sérgio

Produção: WDO Produções

Direção de Produção: Wellington de Oliveira

Assessoria de Imprensa: Monteiro Assessoria

Realização: Cia Atores da Fábrica

SERVIÇO: 

JOÃO DO VALE: O CARCARÁ DA BAIXADA 

CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: Livre

GÊNERO: TEATRO MUSICADO

TEMPO: 60 minutos

LOCAL: CASA DO MENOR SÃO MIGUEL ARCANJO – MIGUEL COUTO

ENDEREÇO: Av. Henrique Duque Estrada Meyer, 222 – Miguel Couto, Nova Iguaçu -RJ

DATA: 17/03

HORA: 16h

ENTRADA: Gratuita

LOCAL: Escola Livre F.A.M.A.

ENDEREÇO: Av. Getúlio de Moura, 1302 – Centro, Nova Iguaçu – RJ

DATA: 24/03

HORA: 16h

ENTRADA: Gratuita

LOCAL: Estação Cidadania Serra do Vulcão – Praça Céu – Jardim Nova Era

ENDEREÇO:  Rua Leocádio Melo – Jardim Nova Era, Nova Iguaçu – RJ

DATA: 31/03

HORA: 16h

ENTRADA: Gratuita

FOTOS Alessandra Fernandes/Divulgação